CHULA

1. ORIGEM

Assim como o carimbó, a chula também se manifestou na forma de música (canto) e dança. O bailado é característico do sul do país, mais especificamente do estado do Rio Grande do Sul, onde é dançado preferencialmente por homens com uma coreografia ginástica e agitada (CASCUDO, 2012).

O pesquisador complementa que esta manifestação provavelmente possui origem em Portugal, nas proximidades da região do Douro e do Minho, no entanto, ainda existem algumas imprecisões com relação a esta versão. Uma das hipóteses seria que chula teria se originado com os grupos do Natal e Reis, que em caso de recusa as ofertas, apregoavam um canto, que seria da chula (CASCUDO, 2012). Já a dança seria resquício do bailado (sapateado) realizado sobre as uvas na produção de vinho. Deste modo, a chula gaúcha poderia ser resultado da mistura destas possíveis origens, no entanto, não temos como precisar exatamente.

Por suas características de desafio, a chula se aproxima do “malambo” dos platinos, e pela necessidade de habilidade de dança sobre a lança, aproxima-se de algumas danças dramáticas brasileiras, como os “moçambiques” (CÔRTES; LESSA, 1956).


A chula se trata de uma dança realizada prioritariamente pelos homens, que realizam sapateados e movimentos acrobáticos sobre uma lança em forma de desafios. Tradicionalmente, estas disputas são desenvolvidas pelos meninos desde cedo, como forma de manutenção da cultura local.

2. DANÇA E PASSOS


Uma das características principais na chula é o rápido sapateado, bem como, figurações complexas que exigem coordenação, equilíbrio e ritmo do peão. A chula normalmente é desenvolvida em forma de desafio entre dois indivíduos.


Para que o desafio seja realizado coloca-se uma lança/vara no chão, medindo cerca de quatro metros (BORGES, 2009), no entanto, para ser desenvolvida na escola, não é necessário que a vara possua este tamanho. Os movimentos são realizados sobre este objeto, de um lado para o outro, e deste modo, não é permitido pisar sobre ele. Os participantes se posicionam na ponta da lança para iniciar a peleja avançando e retornando em seus passos (CÔRTES; LESSA, 1956).

Figura 1: Chula.


Durante o desafio cada um dos oponentes apresenta uma sequência de movimentos, que o outro deve repetir, e em seguida, elaborar a sua composição acrescentando outros elementos. Será desqualificado do desafio aquele que não conseguir reproduzir com exatidão os movimentos do parceiro, ou ainda, perder o ritmo, se afastar da música, errar o passo ou pisar na vara (CÔRTES; LESSA, 1956); (BORGES, 2009). O vencedor será o dançarino que não for desclassificado por estes elementos citados, e realizar figuras que os oponentes não consigam repetir.

Existem outras maneiras de realizar o desafio, uma delas pode ser por meio da dificuldade e habilidade exigidas no desenvolvimento dos passos.  De acordo com a comissão julgadora, vence o desafio o chuleador que realizar os movimentos mais complexos, acrobáticos, e rápidos sem encostar na lança.

De acordo com Côrtes e Lessa (1956, p. 64) a coreografia da chula é dividida nas seguintes fases:


1.    “Preparação da figura pelo dançarino A”: Ao som da música nomeada de “preparação”, o dançarino A executa, em uma das extremidades da lança, uma marcação de passos sem sair do lugar. Na outra extremidade o dançarino B permanece imóvel.



Figura 2: Preparação da figura pelo dançarino A.



2.    “Execução da figura pelo dançarino A”: Movendo os pés de uma região para outra da vara, ao som da melodia intitulada “desafio” o dançarino A se movimenta ao longo da lança, retornando ao seu lugar inicial no final de sua apresentação. O dançarino B observa seus passos atentamente, uma vez que deverá repeti-los.


Figura 3: Execução da figura pelo dançarino A.




3.    “Pausa na coreografia”: O dançarino B tem a oportunidade de recordar os passos executados pelo seu adversário.

4. “Repetição da figura pelo dançarino B”: Este momento se desenvolve ao longo da melodia de desafio, em que o dançarino B repete os passos do seu oponente. Ao término de sua apresentação, o dançarino B ao volta a sua posição inicial.




Figura 4: Repetição da figura pelo dançarino B.

5.    “Preparação de nova figura pelo dançarino B”: Assim como acontece na figura 1, no entanto quem realiza os movimentos preparatórios é o dançarino B, enquanto o A aguarda imóvel.

6.    “Execução da nova figura pelo dançarino B”: Assim como acontece na figura 2, no entanto, é a vez do dançarino B, ao som da melodia desafio, percorrer a vara executando os seus passos.
O dançarino A repetirá estes passos, acrescentará outros, e assim o desafio vai se desenvolvendo sucessivamente, com os momentos de pausa e de preparação.





Existem diversas possibilidades de realizar este sapateado, que varia desde a batida do pé inteiro no chão, somente com o calcanhar, bem como apenas com a ponta do pé, o que dentre as danças gaúchas é considerado bem específico da chula (CÔRTES; LESSA, 1956). Além disso, os dançarinos da chula saltam de um lado para o outro da vara, ajoelham-se e levantam-se rapidamente, cruzam as pernas fora e sobre a lança sempre no ritmo da música. É possível encontrar também giros e volteios sobre este objeto, sempre existindo a forte marcação com os pés.    

Figura 5: Chula.

3. MÚSICA E LETRAS

A música na chula utiliza-se assim como em outras danças gauchescas da viola e da sanfona, chamada por eles de “cordeona” ou “gaita” (CÔRTES; LESSA, 1956). Ao ritmo do fandango os desafios de chula são realizados, normalmente com músicas sem letra, se restringindo ao som da gaita e da viola.


Durante a realização do momento de preparação que precede o desafio, o coro pode entoar o seguinte canto:

“Venha seu MES-ter-Chula,
Ai seu ChuLI-a-dor,
E dê uma PA-ra-dinha
Para o TO-cador.
Venha seu MES-tre Chula,

Ai que ChuLI-a-bem,
E dê uma PA-ra-dinha
Para MIM-tam-bém”.
(CÔRTES; LESSA, 1956, p. 65).

A sílaba escrita com letra maiúscula deve ser entoada de modo mais forte que as demais.

4. VESTIMENTAS

Para a realização da chula os homens se vestem com roupa tradicional gaúcha, o que inclui botas de cano mole e grandes esporas, bombacha, guaiaca, camisa de cor única, lenço de seda ao pescoço e chapéu, além de acessórios que podem variar como colete e faixa na cintura. Apesar das mulheres não desenvolverem a chula, quando participam de algumas coreografias mesmo que de modo secundário, usam roupa típica de uma prenda gaúcha, que se resume ao seu vestido rodado, de longo comprimento, podendo ser estampado ou liso. Na maioria das vezes elas usam seus cabelos presos com um coque. 

Figura 6: Vestimentas da chula.



5. COMO É ATUALMENTE?

Embora as mulheres não realizem os desafios de chula, atualmente em composições coreografadas elas acabam sendo inseridas, entretanto sem ocupar lugares de destaque, ou até mesmo realizarem movimentos sobre as lanças, papel ocupado apenas pela figura masculina. As prendas devidamente trajadas com roupas gaúchas, normalmente ficam atrás assistindo aos desafios, ou ainda, fazem em algumas apresentações a abertura, com movimentações dos seus vestidos ao ritmo da música.

Um festival que inclui a disputa da chula é o Festival Regional de Cultura Gaúcha, que possui como objetivo resgatar a cultura deste povo, agregando entidades tradicionalistas da região oeste de Santa Catarina. O festival reúne competições de diversas modalidades além da chula, em categorias mirim, juvenil, adulto e veterano, dando forma e credibilidade às manifestações características desta região do país.


Outro festival importante é o ENART (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha), que também reúne apresentações de diversos componentes da cultura desta região do Brasil.

6. SUGESTÕES DE ATIVIDADES


PROPOSTA A - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Assim como pontuado nas atividades das demais danças folclóricas é interessante que seja desenvolvida uma contextualização histórica da chula procurando explorar diferentes estratégias.  Isto contribui para a exploração de características gerais e históricas acerca da manifestação estudada.

PROPOSTA B - CONHECENDO AS VESTIMENTAS

Objetivo: Proporcionar aos alunos maiores conhecimentos acerca da caracterização das indumentárias utilizadas na chula.

- Selecione diversas imagens de roupas utilizadas e não utilizadas na chula. Caso haja dificuldades para localizar fotos destas peças, podem ser usadas apenas palavras contendo o nome, por exemplo: lenço, botas, terno, etc.

- Distribua os alunos em grupos;

- Para cada grupo forneça estas imagens embaralhadas e peça para que eles “montem” a vestimenta completa que caracteriza a chula;

- Em conjunto com todo o grupo caracterize como é esta indumentária.


Obs.: Caso os alunos não conheçam algumas peças específicas da chula, seria importante que fossem levadas algumas imagens para facilitar a identificação.

PROPOSTA C - EXPLORANDO AS DIFERENTES PARTES DO PÉ.

Objetivo: explorar as diferentes maneiras de bater o pé no chão, para que as possibilidades na chula sejam maiores.

- Numere partes do pé que podem ser batidas no chão;
Ex: Ponta do pé = 1; Calcanhar = 2; Pé inteiro = 3;

- Ao som de um fandango gaúcho, peça para que os alunos caminhem pelo espaço;

- Ao seu comando, quando for falado o número “1”, todos devem bater com a ponta dos pés no chão; “2”, o calcanhar; e “3” o pé inteiro;

- Conforme a música vai sendo desenvolvida, combine números, e assim eles terão que combinar os movimentos. Por exemplo: Se a combinação for “2 e 3”, os alunos terão que bater primeiro o calcanhar e depois o pé inteiro no chão, e assim sucessivamente, vá explorando combinações.


Obs.: Solicite na atividade que os alunos façam com ambos os pés, e até desafiá-los a fazer com os dois ao mesmo tempo.

PROPOSTA D - SINCRONIZANDO OS PASSOS.

Objetivo: explorar a construção de diferentes ritmos com os pés, parte essencial da chula.

- Disponha os alunos em roda;

- Explore batidas dos pés no chão (calcanhar, ponta, pé inteiro);

- Construa em conjunto com os alunos uma espécie de sequência, acrescentando entre as batidas nos pés, pequenos saltos e giros;

- Por exemplo: Primeiro todos batem o pé direito inteiro no chão;

- Depois o esquerdo;

- Ponta do pé direito e calcanhar direito;

- Ponta do pé esquerdo e calcanhar esquerdo;

- Saltar no lugar com os dois pés inteiros no chão;

- Terminar com um giro no lugar;

- Peça sugestões aos alunos e vá mudando estas sequências;

        - Todos devem executar em conjunto.

PROPOSTA E - PASSOS NA VARA DE CHULA.


Objetivo: Executar sequências de passos sob a vara que caracteriza a chula.

- Peça que os alunos levem cabos de vassoura, canos de PVC, ou ainda podem ser construídos canudinhos de jornal para representar a vara da chula;

- Cada aluno deve possuir a sua vara;

- Explore as sequências de passos desenvolvidas nas atividades anteriores, no entanto, agora elas serão realizadas sobre a vara, trocando de lados, saltando, cruzando os pés sobre ela.

     - Lembre-se que não é permitido tocar na vara enquanto são executados os movimentos.


PROPOSTA F - HORA DO DESAFIO


Objetivo: organizar e desenvolver um desafio de chula, assim como acontece nos festivais gaúchos, para que os alunos possam vivenciar esta experiência.

- Distribua a sala entre os juízes e competidores;

- Peça para os alunos que ficaram na comissão julgadora elaborarem regras para o desafio (tempo e ordem de apresentação, critérios de julgamento, pontuação, etc.);

- Professor atue na mediação da atividade;

- Utilize a sequência de apresentação da chula apresentada neste blog no item número 2, para basear a desafio da turma;

Obs.: Tente trocar os alunos durante a realização dos desafios, de modo que todos participem das duas posições (juízes e dançarinos).


As normas da chula podem ser adaptadas, e assim, pode-se construir um desafio em que os alunos se sintam mais a vontade de participar. Por exemplo, os desafios poderiam ser realizados em grupos, o que expõe menos as dificuldades e limitações de cada aluno.


7. SUGESTÕES DE VÍDEOS













17 comentários:

  1. Imagina Beatriz Migoto!!! Obrigada você pelo comentário!!!!

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  2. Bueno, CHULA é uma dança unicamente gaúcha, era dançada pelos tropeiros quando paravam para descansar e confraternizar, desafio, musica, sapateio e expressão corporal.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. ESSA DANÇA E UMA DAS MELHORES QUE EU JÁ ESCULTEI NA MINHA VIDA ENTEIRA

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  5. Mt bom ótimas informações parabéns e obg pela ajuda

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  6. Mt bom ótimas informações parabéns e obg pela ajuda

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  7. mt bem explicado
    gostei mt
    obg pela ajuda ;)

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  8. A chula dança folclórica brasileira da região sul c parece com quais outras danças da história do mundo?

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