1. ORIGEM
O carimbó se constitui em
uma manifestação folclórica que inclui dança e música. Característico da região
norte do país, mais especificamente do Pará, possui origens no sincretismo
entre as culturas negra, indígena e ibérica (GABAY, 2010). Sobre este assunto
Costa (2011) afirma que existem linhas muito tênues entre o nível de influência
que cada cultura pode ter despendido para a constituição do carimbó, afirmando
que muitos pesquisadores ao tentar delimitar estas contribuições acabaram não encontrando
resultados específicos.
O termo carimbó está
associado a uma espécie de tambor africano feito com um tronco escavado
internamente, em que, em uma das extremidades se aplica um couro descabelado
(CASCUDO, 2012). Este instrumento acabou sendo o utilizado no ritmo que mais
tarde recebeu o mesmo nome.
De acordo com Costa (2011)
as primeiras referências ao termo carimbó podem ser encontradas em leis dos
municípios de Vigia e Belém, datadas do final do século XIX. Nesta última, por
exemplo, a Lei nº 1.028, de 5 de maio de 1880, presente no Código de Posturas
de Belém, o carimbó é explorado da seguinte forma: “É proibido, sob pena de
30.000 reis de multa: (...) Fazer batuques ou samba. (...) Tocar tambor, carimbó,
ou qualquer outro instrumento que perturbe o sossego durante a noite, etc”
(COSTA, 2011, p. 79). Nesta passagem, pode-se identificar a repressão disferida
sobre as manifestações negras, fato característico em todo território nacional
durante este período.
Para o pesquisador Bruno
de Menezes citado por Cascudo (2012), e Costa (2011) o carimbó era comumente
encontrado na Região Atlântica do Salgado, em municípios como São Caetano de
Odivelas, Curuçá, Marapanim, Maracanã, Bragança, entre outros, bem como nas
cidades da Ilha de Marajó. Isto atribuía ao carimbó uma forte regionalidade, o
que ainda impedia que o mesmo se tornasse uma dança urbana mais popular.
Alguns artistas que
tentaram incluir o carimbó em espaços urbanos tiveram dificuldades, como
Pinduca, que chegou inclusive a ser vaiado em algumas festas de Belém
frequentadas pelo público jovem na década de 1970 (COSTA, 2011).
Todavia, este panorama começou a ser revertido
devido ao próprio contexto histórico por qual passava o país, em que se
iniciavam manifestações contra o regime político vigente, bem como, o
surgimento da Bossa Nova anos antes, que já estimulava a realização de
festivais voltados para experimentação de outros gêneros musicais (COSTA,
2011).
As canções mais
tradicionais de certo modo ficavam restritas a estes festivais estudantis,
enquanto que o carimbó feito por artistas de origem mais popular atingiram o
grande público comercial, como é o caso de Pinduca, por exemplo, (COSTA, 2011).
Foi em meio a este processo que o carimbó
passou a ser mais aceito e divulgado, se caracterizando como grande expressão
cultural do norte do país. Em contrapartida, alguns grupos de folcloristas se
posicionaram contrários a esta “modernização” do carimbó, visto que, neste
processo ele perdeu muitas de suas características tradicionais, principalmente
relacionados aos seus instrumentos, o que de certo modo, gerou tensão.
Nas palavras de Costa
(2011) a popularização do carimbó incentivou a formação de dois grupos com
objetivos e visões diferentes acerca desta manifestação. Enquanto o grupo
designado “pau e corda” defendia o carimbó de raiz, tentando protege-lo de
elementos mais comerciais e de instrumentos eletrônicos, como as guitarras e os
baixos, por exemplo, o outro grupo tentava firmá-lo como um produto no
disputado mercado da música.
Para Costa (2010) as
principais características que diferenciam o carimbó raiz do moderno se referem
ao seu instrumental específico, a dança e a música. Os instrumentos do carimbó raiz
incluem três grandes tambores de madeira (os carimbós), que possuem uma
extremidade coberta com couro animal, tocados normalmente na horizontal. Além
disso, em alguns casos, um segundo tocador realiza o contratempo da marcação do
toque do couro, com baquetas de madeira na parte traseira do tambor. Na dança,
as mulheres ficam mais “paradas”, aguardando serem cortejadas pelos homens, que
não podem ser encobertos pela saia.
Este grupo era
representado por folcloristas e estudiosos diversos, além de artistas
suburbanos como é o caso de Verequete (COSTA, 2011); (GABAY, 2009). Já o grupo
considerado moderno, foi intensamente representado pela figura de Pinduca, que
modificou o carimbó acrescentando elementos caribenhos, bem como diversos
instrumentos eletrônicos (COSTA, 2011), (GABAY, 2009). Para ele esta iniciativa
não se tratava de deturpação, mas sim de modernização, o que para ele, permitiu
tornar o carimbó [...] um produto comercial, ao acessar o mercado massivo de
discos, com isso transformando-o, em suas próprias palavras, em “Música Popular
Brasileira” (COSTA, 2011, p. 154).
É fato que o carimbó
conquistou reconhecimento em nível nacional devido a esta vertente mais
comercial, que divulgou o ritmo por todo país, no entanto, é preciso
compreender que a tradição desta manifestação necessita da notoriedade que lhe
é própria.
2. DANÇA E PASSOS
A dança do carimbó é
realizada em círculo feito com homens e mulheres, em que, em um dado momento,
uma das damas vai ao centro requebrando e trejeiteando sua saia, ao som da
percussão, que inclui o carimbó - instrumento- (CASCUDO, 2012). O autor
completa ao enfatizar que a bailarina gira e faz fortes movimentos com sua
saia, impulsionando-a em direção ao parceiro mais próximo.
A dama pode ainda, fazer
movimentos ondulatórios requebrando com as mãos na cintura, enquanto os homens
batem palmas, estalam os dedos e também fazem rodopios acompanhando-a no ritmo
da música.
Também é possível
desenvolver coreografias em outras formações, como em colunas ou filas, por
exemplo, estimulando os alunos a andarem pelo salão, sendo que as meninas sempre
utilizarão das saias para deixar os movimentos ainda mais graciosos.
Com os alunos em duplas,
enquanto o menino marca a batida com uma pisada forte no chão, as meninas podem
girar envolta deles.
O ponto máximo do carimbó
é conhecido como “Peru de Atalaia” ou “Dança do Peru”, momento em que a dama
deixa um lenço cair no chão e o seu parceiro tem que pegá-lo usando apenas a
boca, exigindo, portanto, muita flexibilidade do menino. Este momento da dança
pode ser adaptado caso haja resistência dos alunos, por meio de outras maneiras
de recolher o lenço, no entanto, é importante que eles conheçam a cultura desta
manifestação característica da região norte do país.
3. MÚSICAS E LETRAS
A música do carimbó é
acelerada com batidas fortes e envolventes, que parecem convidar para dançar.
No entanto, existem diferenças entre as músicas do carimbó raiz e aquele mais
modernizado, em que foram incluídos instrumentos elétricos, que não constituíam
a origem desta manifestação.
Desta forma, pode-se dizer
que o carimbó está baseado em instrumentos como “tabaques”, “carimbós” ou
“curimbós” e suas fortes batidas, que constituem a base da percussão, se
destacando em meio aos demais instrumentos do conjunto (COSTA, 2011).
As letras das músicas de
carimbó são bastante alegres, com temas e linguagem regional, retratando o
cotidiano dos povos que vivam na região em que o carimbó começava a se
manifestar (TORRE, 2009). Seguem algumas estrofes de versos entoados em algumas
músicas de carimbó:
"A rosa só é bonita,
Quando
ela tá na roseira.
A
moça só é bonita
Quando
ela é solteira" (bis)
_______//_______
"Arriba
seringandu,
Cajueiro,
caju, ah!
Arriba
rapaziada
Vamos
vê nossa iaiá"
"Maria
me dá teu lenço,
Que
eu quero chorá com ele.
Eu
choro, eu choro, eu choro,
Eu
quero chorá com ele"
"Verônica
me convidou
Pra
ir na praia apanhá ajirou
Eu
não, eu não, eu não,
Que
a mamãe não me mandou".
Professor, você pode
treinar com os alunos algumas estrofes do carimbó, criando diferentes ritmos e
entonação, utilizando as palmas para marcar o ritmo, assim enquanto um grupo
desenvolve a coreografia o outro pode fazer a percussão, utilizando o próprio
corpo, tambores ou até mesmo baldes, como uma alternativa.
4. VESTIMENTAS
Os homens normalmente
utilizam camisa também estampada com flores e calça branca, procurando combinar
com a roupa feminina. É possível encontrar ainda, grupos em que os homens
aparecem dançando sem camisa, apenas com a calça. No que se refere ao sapato,
todos os dançarinos realizam os movimentos descalços.
5. COMO É ATUALMENTE?
Atualmente o carimbó se
apresenta como uma manifestação que representa o norte do país, sendo
reconhecido por muitas pessoas, notadamente, devido às novas características
que incorporou, permitindo sua entrada no mercado da música. Já o carimbó raiz
continua concentrado na região norte.
Existem campanhas
lideradas por artistas, ativistas, pesquisadores e produtores culturais, que
apoiam que o carimbó seja reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro (site
oficial do movimento: http://campanhacarimbo.blogspot.com.br/), entretanto, este objetivo ainda não
foi alcançado (GABBAY, 2010). Existem diversas manifestações e eventos que
tentam conquistar este título ao carimbó, um deles seria o FEST RIMBÓ, que já
acontece há dez anos em Santarém Novo, no Pará.
Além disso, em Marapanin
(PA), considerada a capital do carimbó, ocorre desde 2008, A Grande Festa do
Carimbó, que possui como objetivo não deixar que a tradição na cidade, bem como
em todo o Pará, seja perdida.
- Grupo de Carimbó Sancari
(PA) Site do grupo:<http://www.sancari.com.br/m%C3%BAsicas.php>.
- Grupo Para-folclórico
Por do sol (PR) – este grupo inclui em seu repertório diversas coreografias de
carimbó que podem ser facilmente encontradas no you tube.
- Grupo de carimbó Som de
Pau Oco (PA).
6. SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Professor, é interessante
que você possua músicas de carimbó, (que podem ser algumas das sugeridas neste blog) para que seja possível vivenciar
alguns passos desta manifestação tão característica do norte do país.
São apresentadas a seguir apenas algumas
propostas de atividades que você pode utilizar de acordo com as necessidades do
seu contexto pedagógico.
PROPOSTA A-
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
É interessante
realizar um apanhado histórico da manifestação, apontando suas possíveis
origens e características. Deste modo, procure explorar diferentes formas de
trazer estes conhecimentos aos alunos, utilizando, por exemplo, imagens, vídeos
ou até mesmo trechos de músicas apresentadas neste blog.
Por exemplo:
- Exiba um dos
vídeos sugeridos de uma das coreografias de carimbó;
- Peça para
que os alunos anotem em seus cadernos características gerais desta manifestação
a partir do que eles observaram;
PROPOSTA B - PRODUÇÃO DE VESTIMENTAS
Objetivo: produzir indumentárias para utilizar
durante a aula de carimbó, estimulando a criatividade e a autonomia.
- Uma sugestão
é utilizar TNT para produzir peças como saias para as meninas e coletes para os
meninos. Outros adereços como as flores, colares, e chapéus também podem ser
construídos ou adaptados.
- Explore o
trabalho em equipe e a criatividade para a produção destas indumentárias.
- Registre
este momento por meio de fotos e depois construa um mural em conjunto com o
grupo para expor o trabalho da turma.
PROPOSTA C - JOGO PERU DE ATALAIA
Objetivo:
proporcionar por meio
do jogo, maior compreensão desta figura para o carimbó.
- Distribua os alunos aleatoriamente
pela sala;
- Espalhe diversos lenços (que podem
ser feitos de TNT) pelo espaço;
- Ao som do
carimbó peça para que eles se desloquem pela sala;
- Ao comando
do professor todos devem pegar um dos lenços do chão;
- A cada
rodada do jogo o professor deve pedir que os alunos peguem o lenço com uma
parte diferente do corpo, até chegar na boca, assim como é realmente no
carimbó.
PROPOSTA D - VIVENCIANDO OS PASSOS
Objetivo: proporcionar e explorar algumas
vivências com os passos de carimbó.
A partir dos
passos que foram apontados no tópico número 2, procure explorá-los
separadamente ao som da música de carimbó.
- Disponha os
alunos em círculo alternando um homem e uma mulher (Figura 5 - 1);
- Uma menina
de cada vez deve ir ao centro balançando a sua saia (Figura 5 - 1);
- Enquanto
isso os meninos batem palmas e um dos pés no chão no ritmo da música;
- Eles podem
também fazer esta movimentação enquanto o círculo gira;
- Em duplas,
mais ainda em posição de círculo, as meninas giram em torno dos meninos (Figura
5 – 2);
- Realização
do “Peru de atalaia”: uma a uma as meninas se dirigem ao centro do círculo e
derrubam seus lenços, e os seus respectivos pares o recolhem (Isto acontece com
um par de cada vez).
- Durante a
realização do “Peru de Atalaia”, os casais que estão aguardo sua vez batem
palmas, e as meninas mechem suas saias.
7. SUGESTÕES DE VÍDEOS
- Grupo Folclórico Rosa dos Ventos. Acesso em 06/06/2012.
Filmado por Tigrão Produções.
Músicas: A Garota do Tacacá – Pinduca; A Dança do Carimbó – Pinduca; Altamira Pará.
- Apresentação dos alunos da escola São João - SUD. Acesso em 25/04/2013.
- <http://www.youtube.com/watch?v=x9MDaqcL1V4>. Acesso em 06/06/2012.
8. REFERÊNCIAS
CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. 12. ed. São Paulo: Global
Editora, 2012.
COSTA, T. L. Carimbó e Brega: Indústria
cultural e tradição na música popular do norte do Brasil. Revista Estudos Amazônicos. v. 6, n. 1, 2011, p. 149-177.
GABBAY, M. M. Representações sobre o Carimbó: Tradição X Modernidade. In:
IX Congresso de Ciências
da Comunicação na Região Norte, Rio Branco, ANAIS... 2010.
TORRE, O. O
carimbó e a história social da Grande Vigia, Pará 1900-1950. Revista Estudos Amazônicos. v. 4, n. 2,
2009, p. 113-150.
9. REFERÊNCIAS DAS IMAGENS
Figura1: <http://dancasfolcloricas.blogspot.com.br/2011/04/carimbo-2.html>. Acesso em 20/03/2013.
Figura
2: <http://equilibriodistante.blogspot.com.br/2008/12/coisas-do-meu-brasil-dana-do-carimb.html>. Acesso em 07/06/2012.
Figura
3: <http://guararas.webnode.com/carimbo/>. Acesso: 04/06/12.
Figura 4:
<http://www.flogao.com.br/raphadfenix/61719524>. Acesso: 06/06/2012.
10. SITES CONSULTADOS
<http://www.jangadabrasil.com.br/revista/abril65/fe65004c.asp>. Acesso em: 07/10/2012.
Acesso em: 13/10/2012.
muito grande
ResponderExcluirmias vc pode aprender mais
Excluircorreto vc pode aprender muito mais , vc le e coloca o que é mais importante no texto
ExcluirNa minha apresentação da escola vou dançar carimbó e o meu professor pediu para nós copiarmos um pouco sobre o carimbó e eu vim copiar aqui
ExcluirObrigada
Parabéns pelo post.
ResponderExcluirMuito obrigada Ivanete.
ResponderExcluirmuito obrigado o bom que o artigo foi grande para ler e resumir
ResponderExcluirMuito Obrigada! Fico feliz que tenha sido útil. Abraços.
ExcluirIrlla, sensacional o seu blog! Trabalho com Fundamental I e estou utilizando o seu blog como referência para incluir outras danças como frevo, maculelê e cavalo marinho.
ResponderExcluirAh, fiz o download de sua tese de mestrado e realizei a leitura! Parabéns!
Muito Obrigada Ivana. Qualquer coisa estamos por aqui.
Excluirboa fiquei um bom tempo feito retardado procurando todas as dança pra na dança final achei esse site com todas as dança que poha em
ResponderExcluirse escreve no meu canal seus corno
ExcluirOlá Irlla!
ResponderExcluirEstou fazendo um trabalho para o curso de Educação Física e meu tema rítmico é o carimbó. Uma dúvida: como se chamam os passos utilizados nas coreografias? Como devemos chamá-los?
Estou tentando entendr😂😂😂😂😂😂
ExcluirMexer é com X. As meninas “mexem” suas saias.
ResponderExcluir