Danças Folclóricas na Educação Física escolar: CATIRA

1. ORIGEM

Catira ou Cateretê como também é conhecida, é uma dança rural característica do sudeste do Brasil, apesar de já ter sido encontrada em estados da região sul e centro-oeste, sendo observada desde o período colonial (CASCUDO, 2012). Existem muitas controvérsias sobre sua origem, uns acreditam ser indígena, outros africana, ou até mesmo europeia. Borges (2009) realizou um estudo que apresenta as possíveis influências que cada um destes povos pode ter representado no desenvolvimento da catira, fazendo um apanhado histórico das contribuições tupi, lusitana, espanhola e africana.

Complementando este estudo, Alceu M. Araújo encontrou em suas pesquisas diversas semelhanças entre a catira e outras manifestações como o “bate-pé, racha-pé, sapateado, cateretê mineiro, fandango” (ARAÚJO, 1964, p. 121). Assim, pode-se perceber a linha tênue que existe entre as diversas manifestações brasileiras, bem como a sua miscigenação, o que destaca a dificuldade de delimitar onde começa uma e termina a outra.

A catira é dançada por homens devidamente trajados com chapéus na cabeça, organizados em filas uns na frente dos outros, utilizando-se de fortes movimentos realizados com as mãos e pés, ao som da viola-caipira (CASTILHO; CASTILHO, 2005).

Figura 1: Catira.

Para Araújo (1964), uma das grandes contribuições para a catira encontra-se nas longas trajetórias dos tropeiros no transporte de gado e alimento entre os estados. Durante a pousada e momentos de descanso, eles dançavam batendo os pés e criando ritmos, o que de certo modo, contribuiu com a divulgação e expansão da catira. Provavelmente sua origem exclusivamente masculina seja um resquício desta atividade que era realizada majoritariamente por homens.

2. DANÇA E PASSOS

Ao som da viola os catireiros entram com o “bate-pé e bate-mão”, e dependendo da região podem ser incluídos pulos e volteios (BORGES, 2009). Estes movimentos devem ser realizados no ritmo da música, o que dá um belo efeito sonoro à catira.

A moda é cantada entre os toques da viola para o descanso dos dançarinos (CASCUDO, 2012), e desta forma, os passos de catira são executados apenas quando os cantadores estão em silêncio realizando exclusivamente a parte instrumental.

Rossini Tavares citado por Felícitas (1958, p. 89) ao descrever a coreografia da catira descreve que para começar o cateretê o violeiro entoa o seu rasqueado, enquanto os dançarinos fazem a “escova”, ou seja, um bate-pé, bate-mão e seis pulos, que são realizados diversas vezes durante o desenvolvimento da moda de viola.

Quando termina a moda, os dançarinos realizam uma figura intitulada “Serra a acima” [...] em que rodam um atrás do outro, da esquerda para a direita, batendo os pés e depois as mãos. Feita a volta completa, os dançadores viram-se voltam para trás, realizando o que se denomina “Serra abaixo” (FELÍCITAS, 1954, p. 89). Ao final todos devem retornar ao seu lugar de início.

Figura 2: Catireiros do Araguaia.

3. MÚSICA E LETRAS

A catira é desenvolvida ao som da viola caipira, possuindo letras diversas, mas que normalmente estão relacionadas à vida no campo, causos e brincadeiras.

“Parece uma coisa a toa

Mas tem muito que sabe

Que não é qualquer pessoa

Que dança o cateretê”

(CASCUDO, 2012).

HOMENAGEM AO CATIRA

(Luiz Fernando e João Pinheiro)

"Afirme o pé companheiro nós vamos entrar na função

Pra cantar um recortado eu mudei a afinação

Foi pra atender um pedido, o chamado de um irmão

Lá pras bandas de Rio Claro nós vamos é dar trabalho

Pros campeão da região

A festa vai começar abre a roda no salão

Grupo Catira Brasil é líder na tradição

Moçada boa no pé não fica parada não

É escola no catira o mundo inteiro admira

Já vem de seis geração

Bate palma rapaziada, bate forte o pé no chão

É no estilo mineiro que eu faço a saudação

Pra cantar um improviso eu canto com perfeição

Canto em qualquer altura não toco em viola dura

Só gosto é de trem bão

Esse é o derradeiro verso guarde a viola e o violão

Vai aqui nossa homenagem e o nosso aperto de mão

Aos amigos do catira orgulho do meu sertão

Pros amigos verdadeiros Luiz Fernando e João Pinheiro

Pede paz e proteção".

4. VESTIMENTA

Os trajes para o desenvolvimento da catira normalmente incluem o chapéu, a botina, calça comprida, camisa de manga longa (xadrez) e gravatas feitas com lenços (BORGES, 2009). Na catira quando há participação feminina, utiliza-se o mesmo traje.

A botina ocupa um lugar muito importante, pois o som formado pelas batidas do pé no chão proporciona um efeito sonoro bem característico desta manifestação, complementando o ritmo da viola.

5. COMO É ATUALMENTE?

Atualmente a catira é praticada principalmente no interior do Brasil, em estados como Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins (BORGES, 2009). Assim, a coreografia da catira muda de acordo com a região em que é praticada, sendo que em Minas Gerais, difunde-se uma das mais tradicionais (BORGES, 2009).

Apesar das raízes estritamente masculinas, as mulheres conquistaram seu espaço na catira, e hoje em dia já existem grupos femininos que divulgam o ritmo, assim como, grupos mistos.

Alguns grupos de catira:

- Os favoritos da Catira – Guarulhos (São Paulo). Site do grupo: <http://www.osfavoritosdacatira.com.br/quem_nois_e.php>.

- Tradição Goiana – Goiana Ocidental (Goiás).

- Catira Brasil – Rio Claro (São Paulo). Site do grupo: http://www.catirabrasil.com.br

Em 2010 aconteceu o primeiro Festival Nacional de Catira, em Uberaba (MG), o evento contou com dezoito grupos de catira, promovendo grande encontro bem como divulgação desta manifestação característica da região sudeste do país.

6. CURIOSIDADE

Vieira e Vieirinha se consagraram como “Os maiores catireiros do Brasil”, apesar de também desenvolverem outros estilos musicais. A dupla sertaneja divulgou a música caipira por todo o país, apresentando-se em programas de rádio e televisão principalmente nas décadas de 1950 e 1960. Atualmente os dois já faleceram.

Figura 3: Vieira e Vieirinha.

7. SUGESTÕES DE ATIVIDADES

É importante frisar que as atividades não precisam ser desenvolvidas na ordem em que são apresentadas, nem mesmo serem todas utilizadas, você pode selecionar aquelas consideradas mais interessantes ao seu contexto.

PROPOSTA A - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

É interessante realizar um apanhado histórico da manifestação, apontando suas possíveis origens e características. Deste modo, procure explorar diferentes formas de trazer estes conhecimentos aos alunos, utilizando, por exemplo, imagens, vídeos ou até mesmo trechos de músicas apresentadas neste blog.

PROPOSTA B - EXPLORANDO OS CONHECIMENTOS DOS ALUNOS

Objetivo: pontuar o conhecimento que os alunos possuem sobre catira, já que ela é característica da região sudeste, região de origem do Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo.

- Faça um pequeno roteiro de perguntas sobre a catira;

- Peça para que os alunos respondam em sala, instruindo-os para colocarem o máximo de informações que eles souberem;

- Depois, solicite que eles levem o mesmo roteiro para seus pais e avós, é necessário que a entrevista seja desenvolvida com ambos (devido as questões de idade);

- Monte um quadro comparativo entre as informações obtidas com os alunos, pais e avós;

Discussão: levante elementos sobre o quanto os alunos, pais e comunidade sabem da catira, manifestação originária da região em que eles moram, apontando elementos como a diminuição da tradição desta manifestação ao longo dos anos.

Sugestão: Outra possibilidade interessante seria realizar um trabalho de campo pelo bairro da escola, entrevistando a comunidade local sobre a catira.

PROPOSTA C - PESQUISANDO MÚSICAS DE CATIRA.

Objetivo: montar um CD de catira junto com os alunos.

- Leve os alunos até a sala de informática;

- Coloque algumas músicas em que podem ser desenvolvidas coreografias de catira (modas de viola);

- Se possível coloque alguns vídeos para que eles possam assistir;

- Entre em sites de download grátis de músicas (Sugestão: www.4shared.com);

- Peça para que os alunos a partir das músicas que ouviram, pesquisem outras possibilidades de músicas para executar coreografias de catira;

- Ao final selecione algumas músicas e monte um CD com as faixas escolhidas pela turma.

PROPOSTA D - COMBINAÇÕES RÍTMICAS

Objetivo: Explorar algumas combinações rítmicas para serem usadas em coreografias de catira.

- Disponha os alunos em círculo;

- Proponha algumas combinações de “bate-palmas” e “bate-pés”. Por exemplo:

1. Bate o pé direito no chão (quatro vezes);

2. Bate o pé esquerdo (quatro vezes);

3. Salto no lugar com os dois pés no chão;

4. Bate palma (quatro vezes).

Outra sugestão:

1. Bate palma (duas vezes);

2. Bate o pé direito no chão (três vezes);

3. Bate o pé esquerdo no chão (três vezes);

4. Bate palma (duas vezes).

- Crie um determinado ritmo que esses movimentos deverão seguir;

- Explore outras possibilidades de combinação de “bate-pé e bate-mão”;

- Explore estas combinações em velocidades diferentes.

- Ao final pergunte aos alunos como eles se sentiram durante a realização dos movimentos, se gostaram, quais foram as principais dificuldades encontradas, entre outros.

PROPOSTA E - MOMENTO DE CRIAÇÃO

Objetivo: estimular a criatividade dos alunos na criação de movimentos.

- Escolha juntamente com a turma uma música de catira;

- Divida a turma em grupos de cinco ou seis alunos, e a partir do que foi realizado na atividade anterior peça para cada um criar uma combinação de “Bate-pé e bate-mão”;

- Os alunos deverão encaixar as movimentações na música escolhida;

- Lembre-se que os movimentos da catira são feitos durante a parte instrumental da música;

- Explore a criatividade dos alunos para que eles não repitam a mesma ordem dos movimentos dados por você;

- Ao final todos apresentam os seus movimentos.

PROPOSTA F - CONSTRUINDO UMA COREOGRAFIA DE CATIRA

Objetivo: construir uma coreografia de catira em conjunto com os alunos.

- Escolham uma música;

- A partir dos passos dados por você, bem como, daqueles criados pelo grupo, proponha a construção de uma coreografia em conjunto;

- Depois de pronta, fotografe ou filme a composição produzida;

- Convide a comunidade para assistir a apresentação.

8. SUGESTÕES DE VÍDEOS

Apresentação de alunos. Acesso em 02/06/2012.

Catira Brasil se apresenta no Programa Viola Minha Viola, transmitido pela TV Cultura, São Paulo/SP - (01/09/2004).

Apresentação de Inezita Barroso.
Música: Violeiro sem viola (pagode).
Autores: Lourival dos Santos e Paraíso. Acesso em 02/06/2012.

<http://www.youtube.com/watchv=S09RejvYeUQ&feature=related>. Acesso em 06/06/2012.

Catireiros do Araguaia interpretam composição de Joana Fernandes.
Show Voa Viola - Belo Horizonte, 1/12/2010 no Palácio das Artes.

9. REFERÊNCIAS

ARAÚJO, A. M. “Festas”, “Bailados” e “Mitos e Lendas”. Folclore Nacional. Edições Melhoramentos, v. 1, 1964.

BORGES, C. M. O povo brasileiro e a catira. EFDeportes- Revista Digital - n. 139, dez. 2009. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd139/o-povo-brasileiro-e-a-catira.htm>. Acesso em: 25/07/2012.

CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. 12. ed. São Paulo: Global Editora, 2012.

CASTILHO, D.; CASTILHO, W. Raízes caipiras de Piracicaba na era da Globalização: Cururu, Catira e Moda de viola. Piracicaba: C.N. Editora, 2005.